Relativamente ao pensamento positivo, imagino que há quem pense algo tipo "mas estás-me a dizer que pensar positivamente, ser optimista, etc.
não são boas ideias? Que devemos andar pessimistas e deprimidos?" É claro que não é essa a ideia (e o vídeo menciona-o, de passagem). A questão aqui, a meu ver, é que há duas interpretações
bem distintas do significado de "pensamento positivo", e os "new agers" em geral fazem tudo para
misturar as duas, tornando-as inseparáveis.
"Pensamento positivo", isto é, viver a vida de uma forma optimista e sem medos paralisantes, tentando ver sempre que possível o lado bom das coisas e evitando ao máximo que os problemas / stresses do dia-a-dia nos deitem abaixo,
é uma boa ideia, e
faz diferença na nossa vida, em termos do nosso bem-estar psicológico, da nossa atitude perante problemas e perante outras pessoas, e afins. Torna-nos pessoas menos stressadas e mais agradáveis -- e, por conseguinte, mais "populares", o que não só tende a aumentar ainda mais o nosso bem-estar, como ajuda relativamente ao sucesso na vida -- ou seja, acaba por ser, de certa forma, um círculo virtuoso: optimismo provoca sucesso que provoca mais optimismo que provoca mais sucesso que provoca...
Mas não é isso que os "new agers" promovem (se bem que, desonestamente, recuam para esse significado mais básico quando os criticamos). O que eles promovem, em livros como o estupidamente best-seller "O Segredo", mencionado no vídeo, é a ideia de que os nossos pensamentos e as nossas emoções
afectam directamente o universo, incluindo de forma física e à distância; que
a realidade é fluida e subjectiva, construída por cada um de nós nas nossas cabeças (e que
uma árvore a cair numa floresta sem ninguém ao pé pode não fazer som, precisamente porque a realidade é subjectiva); que para ter sucesso e sorte basta "acreditar" nesse sucesso e sorte e dessa forma
atraí-los. Que para conseguir algo basta "querer muito".
E, portanto, que quem fracassa, quem sofre alguma catástrofe (mesmo uma catástrofe natural), é porque
não queria suficientemente o sucesso, e, dessa forma, atraiu as desgraças. Ou seja, a culpa é sempre da vítima. Mais obsceno do que o "cada um tem o que merece", aqui a ideia é "cada um tem
o que quer". Os pobres são pobres porque querem (ou porque não querem suficientemente a riqueza), os doentes são doentes porque "não acreditam" na sua saúde, e as vítimas de um terramoto ou vulcão têm a culpa disso porque os seus "pensamentos negativos" atraíram a catástrofe.
Isto, senhoras e senhores, é do mais doentio que pode haver.